Autor: Teobaldo Pedro de Jesus.
Conta uma fábula de que o pavão se encontrou com o feioso corvo e começou a zombar deste por suas penas não serem belas como as dele e nem possuir uma bela e colorida cauda. O corvo não se abateu e respondeu que não trocaria suas fortes e firmes garras, usadas na caça, pelas belas penas da opulência "pavônica". Envergonhado o pavão baixou a cabeça e foi embora sob o riso do astuto corvo.
Obviamente tal diálogo jamais existiu. No entanto, metaforicamente, é função das fábulas produzir no imaginário humano a reflexão sobre alguma lição que nos sirva para a vida. Quem somos nós? De onde viemos? O que viemos fazer aqui? Para onde iremos? Responder a tais indagações existenciais latentes em todas as almas humanas tem levado as pessoas a buscarem respostas nas mais diferentes vertentes do saber e proceder humano, isso quando não criam, por si mesmas, alguma nova ideologia interpretativa que lhe satisfaça o ego e aplaque a fome e sede dessa compulsiva busca do ser por respostas que o satisfaça.
A verdade é que há um pouco de pavão dentro de cada um de nós. para quem tem "alma de pavão", ocultar medos, fragilidades, inseguranças e falhas se faz necessário para que a sua autoestima não sucumba ante a constatação dos fatos de que ele não passa de um ser cuja base de sustentação é feia, com aspecto de sujeira e desprezível a muitos. Parecer mais nobre que os demais, e se destacar entre todos, fazendo de tudo para que isso aconteça, é a melhor, senão a única, forma de se sentir menos inferior aos demais. Daí o ostentar contínuo e compulsivo, pois a lição do pavão tem o seu paralelo metafórico na existência humana. E este vai bem além do emblemático exibicionismo aparente pelas belas plumagens, estas símbolo da vaidade que ostenta e se exibe.
Estamos simbolizados no pavão ao nos vermos disformes em nossa essência existencial assim como ele o é no corpo. Ele, apesar das belas plumas que disfarçam e chamam a atenção para si, tem dedos afastados, garras pouco resistentes, com revestimento enrugado e horroroso o que o põe em desvantagem com outras espécies. Ao olhar para baixo ele enxerga os pés feiosos que o sustentam de pé. Em nosso caso nos defrontamos com nossa feiura mais baixa e interior, com nossas origens em todas as suas nuances e isso nos trás vergonha. Por isso necessitamos exibir, cada vez mais, nossa pomposa cauda existencial chamando a atenção para nós.
Dizem que Diógenes de Sínope, o filósofo, certa vez foi convidado a ir na casa de um homem rico e opulento. Este exibia suas riquezas como forma de ostentação e aquilo enojava o sábio que fora advertido para não cuspir no chão que era de material nobre e limpo. De repente Diógenes cuspiu na cara do dono da casa e este revoltado perguntou o porque daquilo, obtendo como resposta que ele cuspira no lugar mais sujo que encontrara naquela casa. Não sei se isso é fato ou lenda, mas ilustra bem a realidade de muitos que vivem da aparência de que fingem todo o tempo que são o que não são, que têm o que não possuem ou que sabem o que desconhecem. E para que isso? Pela mesma razão metafórica do pavão: Puro exibicionismo e vaidade.
A vaidade tem raiz, quase sempre, em uma alma mal resolvida com profundos problemas de autoaceitação. Isso tanto pode ser quanto à sua origem, condição real ou o pior ainda: oriunda do ato comparativo com outras pessoas ou realidades sociais. Quem sofre disso de forma compulsiva precisa provar a si mesmo, a cada dia, que em nada é inferior a outrem e por causa disso acaba entrando numa rota perigosa de competição, exibicionismo, ostentação e não raramente de invejas e mentiras, primeiro a si mesmo e depois aos outros.
Meu conselho a quem sofre desse mal é que lute contra seus impulsos e desejos de ostentação. E se preciso for buscando até mesmo alguma ajuda profissional. Que busquem viver a simplicidade da vida contemplando o belo e celebrando o fato de viver. Alegre-se por estar vivo e percorra o caminho dessa linda e surpreendente jornada chamada vida. Viva-a um pouquinho a cada dia! Mas sem estresses, ansiedades, invejas ou sobressaltos na alma. Aceite as perdas com naturalidade e aprenda com elas. Reconstrua sonhos ruídos, ou pelo menos tente fazê-lo, se reinventando a cada manhã. Prossiga para O ALVO (que para nós cristãos é Cristo!) alegre, feliz e satisfeito com tudo, permanecendo sempre grato a Deus, o Eterno, pelo maior de todos os tesouros que um dia foi dado a ti: A TUA EXISTÊNCIA!
Use essa receita e tenho certeza de que mesmo se os teus pés forem indignos aos teus olhos, quer sejam esses pés, simbólicos e aqui descritos, a tua base de sustentação relacional/social ou de sua origem pessoal, os mesmos já não exercerão peso negativo algum sobre ti. Aprenda e memorize que toda origem é digna quando lançamos sobre ela um olhar de gratidão, amor e generosidade. Ame-se mais e valorize tua passagem pela terra conquistando o amor de outros pelo exemplo. Torne-se uma luz na escuridão da Terra. Shalom!
Pastor Teobaldo - Teólogo, Educador e psicanalista.
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