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O massacre da França: Doze mártires ou doze inconsequentes?

Teobaldo Pedro de Jesus

Doze franceses foram assassinados por extremistas islâmicos. Todos eles chargistas satíricos, oriundos do meio midiático e altamente provocadores. A mídia mundial respondeu rapidamente a isso e deu amplo espaço e destaque a isso em nome da "Liberdade de Expressão e de Imprensa." Resultado: Comoção e revolta mundial. Tá bom. E que dizer dos milhares que são mortos por extremistas diariamente no mundo inteiro? Por que não há a mesma reação midiática e comoção popular? Eu respondo: É que eles não foram transformados em mártires.

Esse acontecimento revela, dentre inúmeras outras coisas o quanto nos tornamos objetos da manipulação daqueles que controlam a informação. Acredito que o ato foi revoltante, violento e, sobretudo covarde. No entanto, atos similares são praticados a todo o momento contra pessoas realmente inocentes que jamais sequer citaram negativamente um islâmico ou os ofendeu. Eles não mereciam morrer assim, mas os outros também não. Já dizem os mais velhos: "quem semeia ventos, colhe tempestades." Ao que parece, o Charlie não aprendeu nada com o episódio, pois anunciou que vai zombar de Maomé e seus seguidores em suas próximas charges. Quanta tolice e irresponsabilidade praticadas em nome dessa difusa concepção de Liberdade de imprensa. Aí, o mundo todo chora e milhões vão às ruas protestar.

A decisão anunciada pelo jornal satírico francês Charlie Hebdo, de prosseguir a zombaria contra a fé islâmica através de charges depreciativas contra Maomé e os muçulmanos é como jogar mais pólvora no incêndio iniciado com o ataque feito por terroristas à redação do jornal em Paris, que resultou na morte de 12 de seus integrantes, gerando outros assassinatos e atos de violência posteriores. A atitude da Charlie é covarde, inconsequente, um desrespeito a todas as crenças religiosas e uma visível provocação oportunista gerada pelo apoio midiático internacional. Algumas de suas charges são claramente racistas e intolerantes contra o pensamento divergente do deles. E mortes que venham em consequência disso será corresponsabilidade de todo incentivador desse tipo de comportamento provocativo e hediondo.

Um Tweet de Marcus Guellwaar Adún Gonçalves resume bem a responsabilidade mútua por essas mortes: “Não consigo entender o terrorismo que ceifou a vida de jornalistas da revista francesa Charlie Hebdo; Não consigo entender o racismo e desrespeito religioso da revista francesa Charlie Hebdo; Não consigo." Ele disse tudo!

Charlie Hebdo não é inocente. Exemplo disso é uma charge ridícula e intolerante em que zombam do PAI, do FILHO e do ESPIRITO SANTO de forma grotesca e sexualmente vulgar. Creio que nada justifica a barbárie do terror. Por outro lado, é incoerente o deboche racista e muito menos a zombaria e o desrespeito movido por sentimento antirreligioso.

Fala-se Muito da intolerância religiosa e do fundamentalismo religioso no mundo, mas o que dizer da igualmente intolerância e fundamentalismo intelectual que patrulha, despreza, ironiza e se colocam contra as pessoas de fé, os crentes de todas as crenças pelo mundo? Os que dizem combater a intolerância acabam por se tornar tão intolerantes quanto aqueles que combatem ou até mais. Já sofri crítica e repressão midiática apenas por rejeitar permanecer omisso e ousar ter a coragem e sensatez de expor o que penso acerca de tema polêmico.

Muitos que defendem a tão proclamada "Liberdade de Expressão", a julgam justificável apenas quando atende à demanda de seus interesses pessoais e ideológicos ou se enquadra em seu nicho intelectual particular de concepção e percepção da vida com suas implicações relacionais.

Um exemplo disso: Ignoram o bem que muitas organizações religiosas fazem pelo mundo afora na recuperação de viciados e atendimentos a pessoas em situação de risco, optando pela ênfase a ações isoladas de desvio de caráter ou perversão de valores de uma crença.

Estima-se que existam 1,2 bilhão de muçulmanos no mundo e destes, muitos afirmam que algo entre uns 20 a 25% deles seriam todos radicais. Duvido que os radicais sejam tantos assim, pois se isso fosse verdade já teriam posto fogo no mundo. Gente é praticamente a população do Brasil inteiro. Agora, se a Islamofobia (que é a aversão ou ódio contra os muçulmanos) seguir no ritmo em que vai esse número, e as reações de violência cada vez mais crescentes, serão inevitáveis.

Creio que será pelo amor que conquistaremos seus corações, não pelo discurso odioso e intolerante, alimentado por segmentos sociais intolerantes, parciais, racistas, sexistas, islamofóbicos e xenófobos, como o Charlie Hebdo demonstrou ser na maioria de suas publicações extremamente desrespeitosas. Em algumas delas contra negros retratados quase sempre como macacos e as religiões tratadas de modo vulgar e grosseiro com temática sexual de perversão.

Penalizar todos os muçulmanos por atos terroristas é injusto, pois há um bilhão deles no mundo e não são culpados pelo ódio de uma minoria radical que é movida por ódio que só gera mais ódio e por uma crescente intolerância que só gera mais intolerância ainda. O extremismo está dentro de cada um de nós, pois Guerra é um estado mental que envenena a alma. Decidir não se deixar vencer e dominar por isso será sempre uma escolha individual, antes de se tornar coletiva.

Assim, protestar contra a covardia dos atentados terroristas é válido, mas sem ignorar a necessidade de se discutir os limites da "Liberdade de Expressão" que agride, desrespeita, ultraja, escolhe agredir e ferir a alma de bilhões de religiosos unicamente por pensar diferente destes.

Por isso afirmo: Je ne suis pas Charlie. Não sou Charlie. Repito o que disse em texto anterior: Apesar de lamentar as mortes e de toda a comoção estimulada pela Mídia, não sou Charlie Hebdo. Sou um ser humano que se comove e lamenta o assassinato de 12 outros como eu, de forma covarde e planejada, por mãos fanáticas que não sabem rebater críticas com outra linguagem que não seja a da violência.

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