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E o Brasil acordou para a eleição.


Partem os homens, permanecem os sonhos. E a melhor maneira de homenagear alguém é honrando seus sonhos. A morte súbita e trágica do jovem, brilhante e promissor político pernambucano Eduardo Campos, trouxe à cena brasileira a possibilidade de uma reviravolta completa no processo da sucessão presidencial. Isso porque o povo brasileiro, em sua maioria sempre tão sensível e solidário na dor, sofreu e chorou com a família do falecido candidato e começou a discutir a viabilidade do nome de sua candidata a vice, Marina Silva, como sua natural sucessora na disputa pela presidência.

Imediatamente as duas principais forças na disputa, até o momento, PT e PSDB, que governaram o país em rotatividade e alternância nos últimos 20 anos, percebeu o imbróglio político que o acidente lhes deixou como legado. Aos petistas veio o temor de que Marina assegure a realização de um segundo turno na disputa e com o risco dela mesma ir a essa etapa como uma adversária com chances reais de vitória contra sua candidata. Do lado do PSDB há uma ambigüidade. É que sem ela no cenário não há a menor possibilidade de segundo turno aos olhos de muitos. Porém, paralelo a isso há o receio de que ela cresça mais que Aécio e vá ao segundo turno contra Dilma. Idéia que causa pavor a todo o staff da campanha.

E eis que surge uma via, um tanto esquizofrênica. Apoiar Marina em um primeiro momento e depois “desconstruir” a viabilidade de sua candidatura ao longo da campanha no Rádio e na TV, além das Mídias Sociais, apontando-a como “uma incógnita” política.

Paralelamente a tudo isso, alguns setores econômicos, como o agronegócio e o mercado financeiro, veem com dúvidas, suspeitas e receio uma mulher cuja plataforma é firmada principalmente no discurso ambientalista, o que perante olhos leigos, imediatistas ou essencialmente do tipo capitalistas que visam só o lucro seria uma aposta indesejável e arriscada, pela possibilidade de êxito e nesse caso de conduzir uma política de meio ambiente casada com a econômica que seria oposta aos projetos ora em andamento no país, tais como a expansão de fazendas para criação de gado, a expansão das terras cultiváveis, e a construção de várias hidroelétricas e mineração nas florestas brasileiras. Tudo isso, ainda que necessário, requerendo cuidados e investimentos, preventivos ou de reposição, caríssimos por trazerem consigo desmatamento, ocupação de terras indígenas, poluição de rios e do solo, pelo manejo de substâncias tóxicas, dentre outras coisas.

Só que tudo isso revela uma completa dissociação da realidade contemporânea na compreensão acerca do que seria uma ação política montada partir da visão ambiental. Afirmo isso porque por o meio ambiente no topo é olhar para o futuro. Para as gerações que ainda nem nasceram. Falar de meio ambiente implica, naturalmente, focar o homem, o ser humano em primeiro lugar. Fala do bem estar deste, do planejamento para que sua felicidade se perpetue séculos afora. É focar na preservação de nossos recursos naturais que não são inextinguíveis, na preservação de nossas fontes de água potável, que será a maior riqueza dos século XXI, na ocupação responsável e legal do solo, sem promover o aumento de latifúndios que exclui o pequeno produtor da cadeia produtiva de alimentos, da expansão de gado em criação extensiva, quando nos países modernos a criação intensiva, em regime fechado, mais cara, porém menos destruidora de patrimônio ambiental, é crescente e considerada a mais apropriada.

Por outro lado, diversas bases eleitorais éticas e religiosas, vêem com entusiasmo a continuidade do discurso de Campos, ora representando em sua companheira de chapa Marina Silva e já se articulam em favor da mesma. A entrada de Marina na disputa mantém aberta a porta ao diálogo e ao debate em torno dos graves e reais desafios nacionais e não à troca de farpas e denúncias vazias. Algo que Campos pretendia fazer e ela manterá.

Não percebo Marina como uma provável ameaça ao sistema. Muito pelo contrário. Contemplo-a como a melhor chance que temos, agora sem Campos, de uma renovação na forma de enxergar, ponderar, planejar e construir o Brasil, por meio de ações inclusivas que não priorizem pobres nem ricos ou coloquem a produção acima da intervenção social.

Vejo-a como uma política que pode ser o fiel da balança na aproximação dos dois mundos. Da parte dos ricos ampliando sua perspectiva na necessidade de uma ação mais responsável em que parte do lucro seja para minimizar as diferenças sociais, e dos pobres a compreensão de que só pela Educação será possível romper, em definitivo, com a miséria nesse país a médio e longos prazos. Que venha MARINA! Que venha o DEBATE do Brasil viável, desenvolvimentista, mas sem perdas ambientais e sociais.

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