Autor: Teobaldo Pedro de Jesus
Cuidado! Ações 'contra-racistas' de afirmação podem reforçar o racismo inverso. Enquanto houver necessidade de dias de consciência racial, o racismo persistirá. Sou mestiço, nasci da mistura de três etnias. Mas em minha pele há a matiz predominantemente negro na minha pele. Eu não me considero uma vítima, embora já tenha sido alvo de racismo diversas vezes em minha vida. Lembro-me que quando criança ao ser humilhado por causa da minha cor eu chorei algumas vezes. Mas cresci, amadureci e aprendi a identificar o racismo como uma doença social.
Isso mesmo. Descobri que racismo é doença que se pega em casa, na rua, na escola e pasmem, até na Igreja às vezes. Pegá-se em ambientes contaminados e viciados com virulências de segregação cujo contágio se dá na alma que compartimentaliza as pessoas pela cor da sua pele, a condição social ou a família de onde vieram. Ninguém nasce racista, a pessoa se torna. E isso de ser racista, se dá em dois momentos da vida.
O primeiro é quando se aprende com os familiares e amigos próximos (escola, igreja e amizades). E o segundo é quando, depois de adulto, mesmo percebendo que todos somos iguais perante Deus e a Lei, sendo diferenciados apenas na cor da pele ou origem étnica, se decide seguir segregando o outro. Aí o racismo se instala de uma vez! E esse segundo tipo é que é o racismo real, pois é feito como escolha, uma opção consciente de uma mente adulta e, supostamente, inteligente, que decide tratar o outro como inferior, mais feio, incapaz, indigno, diferente ou algo similar a isso.
Há no Brasil um tipo de racismo covarde posto que é negado, mas segue vivo, velado, fingido, mascarado, dissimulado e se apresenta, algumas vezes, sob o disfarce do discurso libertário, inclusivo, de auto afirmação, resgate e restauração de identidade e direitos supostamente negados ou roubados (algumas vezes o foram, mas não justifica respaldar ações contra-racistas que são igualmente racistas em essência), mas que na prática persiste segregando negros, índios e outras etnias tidas aos olhares racistas como inferiores, ainda que tal percepção se dê no nível mais inconsciente e imperceptível possível.
E isso se dá de odo tão sub-reptício que somente olhos e mentes treinados ou vitimados com isso um dia conseguem perceber claramente sua manifestação e presença. E esses racistas camuflados ou velados, são dignos de pena e de nossa compaixão, pois persistem em dizer que amam a todos, todas as raças, e que não discriminam ninguém, mas na sua prática diária se distancia, exclui, maltrata e afasta.
É tempo de reabilitarmos um discurso de igualdade que não precise mais de dias da consciência dessa ou daquela etnia para chamar a atenção dos "inconscientes", Mas sim precisaremos de um discurso que seja mais amplo, lato e inclusivo do ser humano, não importando sua origem étnica, social ou outra qualquer. Um discurso que se torne prático e que diga ao mundo a grande verdade que inviabiliza qualquer forma de racismo. A verdade de que: Só existe uma raça. E esta raça é A HUMANA. Pensemos nisso.
Teobaldo Pedro - Pastor, Teólogo, Educador e Psicanalista.
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