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Desprezo, intolerância e indiferença: Assassinos potenciais dos relacionamentos

 Autor: Teobaldo Pedro de Jesus

Todo relacionamento é como um ser vivo e precisa, portanto, ser nutrido diariamente com gestos, atitudes, ações ou simplesmente com demonstrações de amor e afeto que expressem ao ser amado o quanto este de fato é especial e importante em nossa vida. Podemos ainda dizer que o relacionamento, visto aqui como um ser vivo, passa por todo o processo de uma vida. Ele nasce, cresce, envelhece e morre. Bem, se o morrer aqui significar uma ruptura do relacionamento porque um dos dois já não vive mais na Terra, tudo bem. Pois, esse é o processo natural da vida. Contudo, se este morrer significar um distanciamento gradativo, constate e infelizmente fatal que gere ruptura no contato, no toque, no sentir, principalmente de alma, então temos aí um grave problema a ser analisado com bastante interesse, carinho e cuidado. 

Nenhum relacionamento surge da noite para o dia. Sempre é fruto de uma caminhada ou de um aprendizado mútuo. Para sobreviver é preciso que os seres inter-relacionados aprendam a se conhecer, se aceitar e conviver com as diferenças de um modo bastante respeitoso e sincero, sem que isso - as diferenças - implique necessariamente numa ruptura do todo. O fato de uma pessoa ter gostos, aptidões, opções ou ações diferentes de mim não impede que sejamos amigos ou até mais que isso. Afinal, cada ser humano é um mundo em si mesmo e possui toda uma gama infinita de possibilidades tanto de realização quanto do ser.

A grande questão aqui está em um segredinho que passa "batido" a muitos: O saber ouvir. A gente só é capaz de se conhecer "se ouvindo", ou seja, ouvindo a nós mesmos, a nossa própria alma e consciência. De igual modo para conhecer o outro, seja amigo, companheiro, colega, esposa, sócio ou simplesmente um bom amigo, precisamos aplicar esse fundamento essencial que é o saber ouvir o outro. 

Infelizmente os tempos modernos nos ensinaram a sermos apressados e impacientes, quando não intolerantes, intransigentes ou "donos da verdade". Daí reagimos sempre ao outro, como que nos prevenindo, protegendo, encobrindo ou mesmo nos justificando de véspera. E disso nascem as rupturas, os desentendimentos, as feridas relacionais e por último nasce o orgulho que faz não perdoar ofensas e agressões de todo tipo, não voltar atrás em opiniões ou palavras ditas, mesmo que ferindo outros com elas ou escolhas feitas sem pensar no sabor passional da emoção e então, por conta dessa inflexibilidade e dureza, vem a morte de algo que até então parecia tão lindo e duradouro: O relacionamento, ora quebrado ou desfeito.

Nenhum relacionamento morre de um dia para o outro. Eles começam a morrer no exato momento em que a minha opinião, ponto de vista ou vontade, pelo menos aos meus olhos, parece ser tão ou mais importante que a do outro. Emerge no instante em que decido não fazer concessões e me torno uma muralha de convicções sem dar absolutamente nenhuma brecha para novas idéias ou opiniões que não venham de mim. Nasce da presunção de que já conhecemos o outro, sabemos como este pensa, sente e age e assim já sabemos qual o "antídoto" neutralizador para isso. Pura tolice e ledo engano de quem age assim.

Pare e pense nisso. Reveja teus comportamentos, posturas e decisões. Veja se vale apena pagar o preço de perder algo ou alguém que te é hoje tão precioso ou já o foi no passado apenas por uma questão de visão pessoal do mundo, de determinada realidade ou comportamento. Após fazer isso pense que no fim da vida a única coisa realmente preciosa que nos restará na terra, exceto familiares, serão os amigos. Um octogenário me disse com pesar: "É, meus bons amigos estão quase todos mortos. Acho que já não resta muito para mim aqui! Todos se foram."

Pense nisso e aproveite para não só estreitar laços com teus velhos amigos como também criar novas redes de relacionamento. Todas baseadas no amor sincero e respeito mútuo.  Você pode até não andar na casa deles, não sair para comer com eles, mas desenvolva novas posturas de relacionamento, ainda que seja ao andar nas ruas, cumprimentado, sendo gentil, para então ser também lembrado, abraçado, tocado, amado e sentido, com carinho e respeito pelo outro ser que é o seu próximo.

Enfim, aja estimulado para a vida e pela gentileza. Dizem que quem tem amigos vive mais. Então: Viva amizade, os bons relacionamentos e a longevidade. E, para encerrar digo que se isso for verdade “tô dentro!”. Porque  quero viver muito. E você?


Pastor Teobaldo Jesus, Educador, Teólogo e Psicanalista




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